A farmacêutica Eli Lilly anunciou nesta segunda-feira os resultados da última etapa dos estudos clínicos com o donanemabe, um medicamento experimental para o tratamento do Alzheimer. Os dados indicaram uma redução de até 60% no declínio cognitivo da doença.
Esse efeito maior foi observado em um subgrupo de pacientes com comprometimento cognitivo leve e baixas concentrações de uma das proteínas consideradas causadoras da doença. Ainda assim, benefícios significativos também foram constatados para aqueles com sintomas leves, mas com maior avanço da substância no cérebro.
Os dados da fase 3 dos testes clínicos, chamados TRAILBLAZER-ALZ 2, foram publicados na revista científica Journal of the American Medical Association (JAMA) e divulgados durante a Conferência Internacional da Associação de Alzheimer, realizada nesta semana em Amsterdã, na Holanda.
O medicamento é um anticorpo que age eliminando a concentração da proteína beta-amiloide no cérebro do paciente. O seu acúmulo, assim como o da proteína tau, tem sido considerado um dos principais mecanismos associados ao Alzheimer. Embora a eficácia limitada de outros fármacos tenha colocado em xeque esse papel da substância, Carrilo diz que os dados do donanemabe confirmam a importância da amiloide na doença.
Essa busca pela eliminação das proteínas tem sido o alvo da última geração de remédios para a doença. O novo, porém, é o que demonstrou uma maior eficácia até então. O mais recente, o lecanemabe (vendido sob o nome comercial de Leqembi nos EUA pelas farmacêuticas Biogen e Eisai) reduziu em 27% o declíncio cognitivo. Um dos problemas para o maior acesso, porém, são os altos preços e o risco de graves efeitos colaterais.
Segundo o comunicado da Eli Lilly, o donanemabe já está sob análise da Food and Drug Administration, agência reguladora americana. O envio dos documentos para o pedido de aprovação foi concluído no último trimestre, e a empresa espera uma decisão no fim de 2023. “As submissões a outros reguladores globais estão em andamento, e a maioria será concluída até o final do ano”, acrescentou.
Anne White, vice-presidente executiva da Eli Lilly and Company e presidente da Lilly Neuroscience, comemora os resultados. “Se aprovado, acreditamos que o donanemabe pode fornecer benefícios clinicamente significativos para pessoas com esta doença”, diz.
O medicamento é um anticorpo monoclonal injetado de forma intravenosa a cada quatro semanas, durante um período de 72 semanas (18 meses). Ele se liga às placas de beta-amiloide depositadas no cérebro para eliminá-las.
O estudo envolveu 1.736 pacientes, de oito países, com idades de 60 a 85 anos. Todos tinham comprometimento cognitivo leve, mas diferentes níveis de acúmulo da beta-amiloide e da tau. Eles foram divididos entre os que receberam o fármaco e os que receberam placebo.
O tratamento reduziu com sucesso as placas da beta-amiloide: em média 84% nos 18 meses, em comparação com uma redução de somente 1% para os voluntários do grupo placebo. Eles pararam de receber o medicamento ao atingir o nível de limpeza da proteína desejado, algo que foi feito por aproximadamente metade dos participantes em menos de um ano. Isso é positivo pois quanto menor o tempo da aplicação, menores são os riscos de efeitos colaterais.
Uma subanálise mostrou que, entre aqueles com baixa concentração da proteína tau no cérebro, e que estavam no estágio mais inicial possível do comprometimento cognitivo, essa eliminação resultou em um declínio cognitivo 60% mais devagar em comparação com o grupo placebo.
Essa foi a maior eficácia observada no estudo, porém outros grupos também tiveram um benefício significativo. De modo geral, entre aqueles com baixo nível de tau, a redução foi de 35%. Já considerando os com acúmulo mais avançado da tau, a diminuição foi de 22% na Escala Integrada de Avaliação da Doença de Alzheimer, ou iADRS.
Os pesquisadores também fizeram uma avaliação por faixa etária. Eles observaram que nos participantes com baixo nível de tau e menos de 75 anos, a redução foi mais acentuada, de 48%. Nos com idades acima, foi de 25%.
Assim como o aducanumabe e o lecanemabe, remédios anteriores que também agem limpando as placas amiloides, um dos problemas do donanemabe são os graves efeitos adversos associados ao medicamento, chamados de anormalidades de imagem relacionadas à amiloide (ARIA, da sigla em inglês).
No grupo que recebeu o donanemabe, 36,8% relataram algum tipo de ARIA, enquanto no placebo esse percentual foi de 14,9%. Três mortes foram associadas ao tratamento, segundo os pesquisadores escreveram no estudo:
A Associação de Alzheimer diz, em nota, que “esse risco pode ser gerenciado com observação e monitoramento cuidadosos e remoção do tratamento, se necessário, e muitas vezes o tratamento pode ser reintroduzido”. Explica ainda que “os pacientes que vivem com uma doença fatal e suas famílias devem sempre conversar com seus médicos para desenvolver um plano de tratamento adequado para eles, incluindo a avaliação dos benefícios e riscos das terapias aprovadas”.