NOVEMBRO AZUL

Nelson Piquet é condenado em R$ 5 milhões por racismo e homofobia

 

 

 

 

 

O ex-piloto de Fórmula 1 Nelson Piquet foi condenado a pagar R$ 5 milhões por danos morais coletivos após proferir falas racistas e homofóbicas sobre Lewis Hamilton. Assim decidiu o juiz de Direito substituto Pedro Matos de Arruda, da 20ª vara Cível de Brasília/DF.

As falas foram feitas durante uma entrevista publicada na internet. Ao fazer críticas a Hammilton, Piquet usou o termo “neguinho”. Ele também criticou outros pilotos e fez comentário homofóbico.

A ação civil pública foi ajuizada por entidades de proteção aos direitos humanos e de direitos da população LGBTQIA+.

Ao analisá-la, o juiz citou que as falas de Nelson Piquet não podem ser desprezadas, uma vez que se trata de uma pessoa pública mundialmente conhecida e com potencial de influência sobre seus admiradores.

Disse, ainda, que a “falta de intenção” já não é mais relevante para justificar ou desresponsabilizar condutas discriminatórias às minorias.

Os atos discriminatórios foram por séculos tolerados por uma sociedade eurocêntrica, autodenominada branca, que definiu a narrativa histórica. Sem voz, as minorias não conseguem expor a pluralidade do que é socialmente aceito. E as versões de todos nós precisam ser expostas no mesmo nível de importância para que se possa construir uma sociedade livre, justa e solidária, como desejaram nossos Constituintes.

O juiz ainda destacou que só muito recentemente as vozes minoritárias passaram a ser ouvidas, e ainda muito timidamente, “mas o suficiente para que fossem escancarados os preconceitos da sociedade brasileira” para com as mulheres, negros, indígenas, comunidade LGBTQIA+ etc.

O magistrado observou que, nas oportunidades em que se referiu ao piloto inglês, o requerido utilizou a palavra neguinho sempre quando o criticava, associando-o ao período em que não estava com um bom rendimento nas pistas. Quando, porém, quis ressaltar os aspectos positivos, nomeou-o, deixando o aspecto racial de fora: “o Hamilton ganhou quantas corridas? Três.”

Quanto à fala homofóbica, o juiz observa que o ex-piloto relaciona a performance ruim de Hamilton a sexualidade: “o neguinho devia estar dando mais cu naquela época”. “A correlação é bastante clara: não fosse Hamilton gay, teria ganhado o campeonato. Logo, o ser gay seria uma característica negativa, porque significa incompetência. Reforça ainda a conotação negativa à homossexualidade a risada do requerido logo em seguida, transparecendo o tom debochado.”

“Quando o réu afirmou que o piloto gay estava performando mal porque estava se relacionando sexualmente, ele ataca a comunidade gay, não apenas um indivíduo, porque associou a todo um grupo uma característica negativa: a incompetência, a incapacidade, a inferioridade em relação aos heterossexuais. Da mesma forma, quando faz uso do termo neguinho, o faz para referir a situações em que Hamilton errava ou praticava atos desleais, em sua opinião. Quando para apontar elementos positivos, o piloto tinha nome; para apontar os defeitos, tinha cor. Então, esta cor, a negra, seria o problema. Essa é a associação transmitida pelo réu.”

Para o juiz, a ofensa é intolerável. E mais ainda quando se considera a projeção que é dada quando é uma pessoa tão reconhecida e tão admirada como o réu.

Assim, considerou caracterizado o dano moral coletivo, “porque houve ofensa grave aos valores fundamentais da sociedade”.

Para definir o valor, o magistrado considerou o seguinte parâmetro: o réu realizou doação eleitoral no valor de R$ 500 mil; segundo a lei eleitoral, essas contribuições são limitadas a 10% dos rendimentos brutos auferidos pelo doador no ano anterior. Isso significa que, em 2021, Piquet teve rendimento bruto mínimo de R$ 5 milhões.

Sendo assim, “nada mais justo que fixar a quantia de R$ 5 milhões – que é o valor mínimo de sua renda bruta anual – para auxiliar o país a se desenvolver como nação e para estimular a mais rápida expurgação de atos discriminatórios”.

O valor pago pelos danos coletivos será destinado a fundos para promoção da igualdade racial e contra a discriminação da comunidade LGBTQIA+.

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *